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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Paraguaçu ancestral: As raízes das famílias Dias Adorno, Rodrigues e D’Ávila

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(Texto compartilhado no dia 11 de fevereiro de 2025 por Alexandre Gonçalves do Bonfim)

Em 1552, D. Duarte da Costa foi escolhido para ser o governador geral do Brasil, sendo filho de D. Álvaro da Costa, que atuava como camareiro e armador-mor do rei D. Manuel I. Apesar de sua família não ser da nobreza, eles mantinham uma forte conexão com a corte portuguesa, o que ajudou na sua ascensão ao cargo. D. Duarte possuía uma relação próxima com o príncipe D. João III, o que pode ter tido um papel importante em sua nomeação. Durante seu período no cargo, ele, junto com seu filho, D. Álvaro da Costa, reprimiu os indígenas, especialmente os Tupinambás.

Antes de voltar a Portugal em 1557, D. Duarte fez a doação de uma sesmaria entre os rios Jaguaripe e Paraguaçu para seu filho, D. Álvaro, em reconhecimento aos seus serviços. Em 1562, D. Álvaro buscou a validação dessa doação, já que a terra permanecia desocupada devido à resistência dos indígenas. A Coroa não apenas confirmou a posse, mas também transformou a área em capitania, concedendo a D. Álvaro poderes de jurisdição e a capacidade de distribuir sesmarias. Isso possibilitou uma melhor organização do território na área.

Após a transformação da sesmaria em capitania, D. Álvaro pôde realizar a distribuição de terras, que ocorreu entre os anos de 1560 e 1570. Contudo, ele nunca retornou ao Brasil e designou seu primo, Fernão Vaz da Costa, como seu representante no Paraguaçu. Após o falecimento de Fernão em 1568, seu genro, Martim Carvalho, assumiu o cargo, continuando a administração e recebendo terras na região. A dinâmica das doações e a mobilização de descendentes de figuras proeminentes como Diogo Álvares Correa, conhecido como Caramuru, evidenciam a importância das alianças familiares e militares na formação da sociedade colonial na Bahia.

Álvaro Rodrigues e Paulo Dias Adorno casaram-se com duas das muitas filhas de Diogo Álvares Correia e suas esposas Tupinambá. Paulo Dias Adorno casou-se com Felipa Álvares, enquanto Afonso Rodrigues tomou Madalena Álvares como noiva, conforme relata Frei Jaboatão. Algumas fontes sugerem que ambos chegaram ao Brasil ao lado de Martim Afonso de Sousa durante a sua expedição inicial para os portugueses na América. Há também alegações de que eles chegaram à Bahia enquanto escapavam de acusações de assassinato em São Vicente. Juliana Brainer Neves observa que Dias Adorno era um nobre de família de Gênova. No entanto, para Rodrigues não há informações claras sobre a sua situação social no reino, apenas que era oriundo da vila de Óbidos.

É importante notar que a ligação entre essas três famílias facilitou a ascensão social dessa linhagem, atribuída às honras e recompensas recebidas por serviços prestados à administração colonial. Além disso, o fortalecimento do status dos descendentes de Caramuru foi impulsionado pelo casamento de sua neta, Izabel Dias, com Garcia D'Ávila. A fusão das propriedades de ambas as famílias desempenhou um papel crucial na formação da renomada e vasta propriedade da família D'Ávila. Esse contexto ressalta a importância das uniões familiares na administração da terra e no serviço à Coroa em busca de benefícios, que, como ilustra o historiador Rodrigo Ricupero, foram cruciais para a acumulação da riqueza dos latifundiários na Bahia durante os séculos XVI e XVII.

Ao todo, foram concedidas 08 concessões de terras às famílias Dias Adorno e Rodrigues e aos descendentes de Diogo Álvares Correia, conhecido como Caramuru. Entre as diversas expedições organizadas pelo governo geral com o objetivo de extrair minerais preciosos, reprimir levantes indígenas e escravizar indígenas, existem numerosos registros que indicam o envolvimento de membros da família, incluindo algumas incursões na região do Paraguaçu. O relato mais antigo da participação de um membro da família em expedições ao Paraguaçu é o de António Dias Adorno, filho de Paulo Dias Adorno, durante o mandato de Mem de Sá, que era o líder na época. Em seguida, há o registro de Álvaro Rodrigues, filho de Afonso Rodrigues, liderando uma expedição ao Paraguaçu em 1573 sob as ordens do governador Luís de Brito. Após esse evento, Afonso Rodrigues estabeleceu um engenho de açúcar ao norte do rio, próximo a Iguape.

Consequentemente, é razoável considerar que as concessões de terras dadas aos Rodrigues, aos Dias Adorno e aos descendentes de Caramuru possam ter sido influenciadas pelo envolvimento dessas famílias em algumas das expedições realizadas no vale do Paraguaçu. Felipa Álvares, filha de Caramuru e esposa de Paulo Dias Adorno, recebeu terras perto do rio Capanema. Nessas terras, o filho do casal, Antônio Dias Adorno, que havia apoiado Mem de Sá nas missões para subjugar os indígenas no Paraguaçu, estabeleceu dois engenhos de açúcar na década de 1570. Como sertanista, ele também participou de viagens à capitania de Porto Seguro e recebeu uma concessão de 1200 braças de terra cedidas para Gomes Rodrigues.

Gaspar Rodrigues também foi homenageado por Pero Carreiro. O filho mais novo de Afonso Rodrigues recebeu, em 12 de maio de 1574, 3000 braças quadradas. É interessante observar a particularidade de sua doação, que impunha ao Rodrigues a responsabilidade de povoar as terras designadas para pecuária em até seis meses. Um acordo semelhante foi estabelecido nas cartas de doação de sesmaria de Belchior Dias Porcalho (que possuía um engenho de bois na região de Parnamirim, conforme Gabriel Soares de Sousa), de Catarina Álvares (filha de Caramuru que obteve 5000 léguas próximas à foz do rio Jaguaripe) e de Antônio Paiva (casado com Felipa de Figueiredo, neta de Caramuru).

É relevante também o caso de Cristóvão de Barros, que recebeu uma légua de terra nas áreas do Ibatatan em 25 de julho de 157820, onde foi edificado um engenho. Ele era filho do donatário do Ceará, António Cardoso de Barros, um escudeiro fidalgo ativo na Índia. Cristóvão de Barros chegou à Bahia ao lado de seu pai, que, após desistir de sua capitania (do Ceará), foi nomeado o primeiro provedor-mor da fazenda do Brasil em 154921.

Na Bahia, ele começou sua trajetória como soldado, mas em 1566 tornou-se capitão-mor de uma esquadra enviada do reino para auxiliar na fundação do Rio de Janeiro, capitania real que governou de 1572 até pelo menos 1575. Ele assumiu o cargo de provedor-mor, que herdou do pai, e foi o líder na conquista da área onde foi estabelecida a capitania de Sergipe Del Rey, da qual foi o primeiro capitão. Além disso, tomou parte do governo geral interino entre 1587 e 1591 e, segundo Ricupero, possuía várias propriedades em Sergipe e no Rio de Janeiro (onde tinha um engenho)22. Como mencionado anteriormente, Cristóvão de Barros atuou como soldado na Bahia na década de 1560. Portanto, não se deve ignorar que ele recebeu a sesmaria na donataria de d. Álvaro da Costa como uma compensação por sua possível participação nas guerras do Paraguaçu.

Assim, é possível notar que a capitania do Paraguaçu foi uma fonte de mercês para indivíduos que estavam associados ou participavam da administração colonial.



Texto adaptado por Eugênio Pacelly Alves




Referências bibliográficas:

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Fundo da Tesouraria da Fazenda da Província da Bahia. Synopse das Sesmarias Registradas nos Livros Existentes no Archivo da Thesouraria da Fazenda da Bahia. Códice 155. [1534-1828].

BRASIL. Biblioteca Nacional. Documentos Históricos: Patentes (1677-1678). Forais, doações, mandados e regimentos (1534-1551). Volume 13. Rio de Janeiro: Augusto Porto & C., 1929. 

GAVETAS (As) da Torre do Tombo. Lisboa: CEHU, 1960-1977, p. 512-515. V. XVIII, 05- 13. 

JABOATÃO, Frei Antônio de Santa Maria. Catalogo genealógico das principais famílias procedentes dos Albuquerques e Cavalcantes em Pernambuco e Caramuru na Bahia por frei Antônio de Santa Maria Jaboatão. In: Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Tomo LII, Parte I. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1889. 

LEME, Margarida. D. Álvaro da Costa: o fiel servidor do rei, o fundador da família. In: ROSA, Maria de Lurdes (coord.). D. Álvaro da Costa e a sua descendência, séculos XVXVII: poder, arte e devoção. Lisboa: IEM/CHAM, 2013. 

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE. Biblioteca Nacional. Documentos Históricos. v.35. v.36. Provimentos Seculares e Eclesiásticos. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1937.

NEVES, Juliana Brainer Barroso. Colonização e resistência no Paraguaçu: Bahia 1530-1678. Salvador: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2008, p.18-19. Disponível online: Acesso em 27 de abril de 2019.

RUY, Affonso. História da Câmara da cidade de Salvador. Salvador: Câmara Municipal, 1949. 

SALDANHA, Antônio Vasconcelos de. As capitanias do Brasil: antecedentes, desenvolvimento e extinção de um fenômeno atlântico. Lisboa: CNCDP, 2001.

VIANNA, Francisco Vicente. A Bahia Colonial I e II. In: Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. v.36 e v. 37. Salvador, 1909-11.

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