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A
narrativa da Família Rêgo Leite é há muitos anos um tema intrigante para
genealogistas, estudiosos locais e descendentes do Rio Grande do Norte. Uma das
histórias mais conhecidas se encontra no livro Família Rego Leite: de Portugal
a Pau dos Ferros, que sugere uma trajetória direta entre a Europa e o
município do Alto Oeste potiguar, quase como se fosse uma linha contínua sem
desvios ou ramificações importantes. Contudo, documentos, depoimentos orais e
novas pesquisas indicam que essa versão pode ser excessivamente simplista — e
até mesmo incorreta em algumas colocações.
Neste
artigo, iremos investigar provas que demonstram a presença documentada dos Rêgo
Leite em Touros/RN antes do estabelecimento do ramo em Pau dos Ferros. O
intuito não é desmerecer totalmente as pesquisas existentes, mas inspirar
reflexão, estimular o debate e expandir a investigação sobre essa significativa
família do Rio Grande do Norte.
A
versão amplamente aceita sugere que os primeiros membros da família Rêgo Leite
chegaram de Portugal diretamente ao interior do Rio Grande do Norte,
estabelecendo-se em Pau dos Ferros e posteriormente ramificando-se para outras regiões a partir
daí. Apesar de ser uma narrativa organizada e lógica, ela carece de evidências
documentais concretas — especialmente no que se refere ao início, entre a
chegada ao Brasil e o suposto pronto assentamento no sertão.
A
falta de registros de batismos, casamentos ou falecimentos nesses primeiros
anos em Pau dos Ferros levanta uma questão válida: a família realmente se
instalou ali logo após deixar Portugal?
Documentos
e testemunhos sugerem que Touros foi um ponto de passagem crucial — e
possivelmente o primeiro ou um dos primeiros lares da família Rêgo Leite no Brasil. Sendo um
município litorâneo, com uma forte atividade comercial e um grande fluxo de
portugueses entre os séculos XVIII e XIX, Touros oferecia condições favoráveis
para a recepção de novos imigrantes.
Algumas evidências que apoiam essa ideia:
1.
Registros paroquiais antigos em Touros
Investigações
em livros de registros religiosos mostram sobrenomes ligados ao tronco Rêgo Leite listados em Touros antes de qualquer documentação em Pau dos Ferros.
Embora nem sempre apareçam com a ortografia exata "Rêgo Leite", é
comum que as famílias portuguesas na época utilizassem variadas formas de
sobrenome, especialmente em seus primeiros anos no Brasil.
2.
Laços familiares com habitantes de Touros
Existem
indícios de casamentos com famílias tradicionais daquela região litorânea, algo
difícil de acontecer se a família tivesse se dirigido diretamente ao sertão,
onde o círculo social era mais limitado nesse período.
3.
Atividades comerciais típicas de novos imigrantes portugueses
Profissões relacionadas ao comércio marítimo, gestão local e pequenas propriedades no litoral aparecem associadas a possíveis membros da família. Essa movimentação inicial faz mais sentido no contexto de Touros do que em Pau dos Ferros, que ainda estava em processo de desenvolvimento.
A
suposição de que Touros foi o primeiro núcleo da família Rêgo Leite no Rio
Grande do Norte se alinha melhor aos padrões de migração da época. Os
portugueses que acabavam de chegar frequentemente não eram direcionados
imediatamente para regiões mais internas sem antes formarem laços,
estabelecimentos comerciais ou conexões políticas na costa.
Touros funcionava como um ponto vital para a chegada de embarcações menores oriundas do Norte e da Europa. A Vila de Touros possuía conexões com Natal e outras áreas costeiras que recebiam imigrantes de maneira regular. Muitas famílias do sertão potiguar inicialmente se mudaram para a costa, firmaram-se lá, e posteriormente avançaram para o interior, onde havia mais terras disponíveis.
Existem registros mais consistentes da família apenas quando ela já está estabelecida no Alto Oeste, o que indica que essa fase representa uma segunda etapa, não o começo da presença dos Rêgo Leite no RN. Esse ponto de vista posiciona o ramo de Pau dos Ferros como proveniente de um núcleo anterior, possivelmente situado em Touros ou na região litorânea adjacente. Portanto, o livro mencionado pode ter abordado apenas a parte da trajetória que já estava consolidada no interior, ignorando a fase costeira anterior.
Reavaliar
a história da Família Rêgo Leite não se trata apenas de um embate entre
narrativas - é uma chance para enriquecer a discussão genealógica, preencher
lacunas na história, promover investigações em arquivos paroquiais da costa e
reconstruir de maneira mais precisa o caminho dos imigrantes portugueses no RN.
Ao
trazer à tona a possibilidade de que Touros tenha sido o verdadeiro ponto de
partida da família no Brasil, abrimos espaço para novas pesquisas, permitindo
que descendentes e estudiosos construam uma narrativa mais abrangente e
fundamentada em documentos paroquiais.
Texto de Patrício Holanda
Referências bibliográficas:
Joaquim Epaminondas de Souza Rêgo. Disponível em: >(https://www.familysearch.org/pt/tree/person/details/9JHV-8B3)<. Acesso em 29 de outubro de 2025.
Livro digital: Fragmentos da família Rêgo Leite no RN de 1839 a 1939. Disponível em: >(Livro digital: Fragmentos da Família Rêgo Leite no RN de 1839 a 1939 (GuardaChuva Educação))<. Acesso em 29 de outubro de 2025.
Manoel do Rêgo Leite. Disponível em: >(https://www.familysearch.org/pt/tree/person/details/L7F4-R42)<. Acesso em 29 de outubro de 2025.

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