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A disputa entre os
Alencar e os Sampaio se apresenta como a rivalidade entre essas duas linhagens
se estendeu por grande parte do século XX. O confronto mais intenso ocorreu a
partir do término da Era Vargas, atravessando o período democrático que se
seguiu à Segunda Guerra Mundial, até a ditadura civil e militar que começou em
1964; atingindo também o início da Nova República, com a transição para um novo
processo democrático.
Por um longo período,
a região Nordeste esteve em evidência na mídia nacional devido ao intenso
conflito entre as famílias Alencar e Sampaio, localizado no município de Exu,
no interior de Pernambuco. O ponto de partida dessa disputa rural, que se
estendeu por mais de trinta anos, foi um incidente fatal que ocorreu em 10 de
abril de 1949, após um confronto armado que resultou na morte do coronel Romão
Sampaio Filho e de Cincinato de Alencar Sete, um ex-prefeito da cidade.
A partir desse
momento, um desejo profundo de vingança e uma onda de violência afetaram ambos
os clãs. Foram registrados 48 homicídios, em sua maioria envolvendo pessoas
inocentes, cometidos de maneiras diversas e brutais em Exu, Recife, São Luís,
Rio de Janeiro e em outras localidades, além de tentativas de assassinato.
Essa tragédia do
sertão é narrada em prosa e verso através de literatura de cordel, reportagens,
documentários televisivos, trabalhos acadêmicos e músicas. O que se comunicava
até então era que a sequência de mortes violentas era alimentada pela disputa
cega pelo controle local. As armas em casa, assim como as conversas delicadas
sobre política e desavenças, eram temas comuns em seu cotidiano. Quando o
atentado ocorreu, em 1972, Zito Alencar residia em Sapé, na Paraíba. Ele se
mudou para outro estado porque em Exu existia um plano para sua morte, devido
sua presença na cena do crime de 1949. Para garantir sua sobrevivência e criar
sua família, foi forçado a partir e até mesmo mudar seu nome no novo lugar que
escolheu para viver.
Contudo, o acordo
feito durou muito pouco. No início de 1973, o então prefeito de Exu, Raimundo
Ayres de Alencar, foi morto com três disparos de revólver na praça central da
cidade. A onda de violência não se restringiu a isso. Vinte e três anos depois
de ter deixado a cidade, Zito Alencar retornou a Exu e foi eleito prefeito, mas
não conseguiu completar seu mandato: foi assassinado em plena rua, em maio de
1978, com 52 anos, por balas traiçoeiras. O assassinato chocou Exu e teve
repercussão mundial. A missa de corpo presente foi oficiada pelo padre João
Câncio, que havia fundado a Missa do Vaqueiro com Luiz Gonzaga. Ele era um
amigo da família.
O mais recente ato
violento dessa guerra, segundo o relato de uma descendente da família Alencar,
aconteceu em 1981.
O conflito realmente
cessou apenas quando o governo, finalmente, começou a atuar de maneira mais
significativa no caso, a partir do início dos anos 1980.
Alguns estudos buscam
entender os conceitos que
geralmente são aventados quando se fala das turbulências nordestinas, sobretudo
sertanejas. O mais usual é o conceito de coronelismo. A partir das análises de
José Murilo de Carvalho (1998), sobre o trabalho de Vítor Nunes Leal,
entendemos que este conceito exige maior reflexão no que concerne às lutas
entre famílias, pois:
(...) o coronelismo é um sistema
político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o
presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos. O coronelismo,
além disso, é datado historicamente. (CARVALHO, 1998, p.1)
Sendo o coronelismo um sistema que se
manteve restrito e que esteve presente apenas durante a chamada República
Velha, desde sua implementação até sua derrubada pela Revolução de 1930, não há
como considerar a vingança privada como parte desse sistema político.
Além disso, conforme mencionado
anteriormente, diversas famílias em disputa apresentavam diferenças
significativas em termos de renda, propriedades e até mesmo em relevância
regional. Não era uma regra que toda família extensa envolvida em conflitos
contasse com membros que ocupassem posições nas forças armadas, no comércio de
grande porte ou no serviço público (clientelismo).
Assim, a palavra coronel, utilizada para
designar um poderoso local com controle absoluto sobre a vida da comunidade,
nesse sentido estrito, é apenas uma construção conceitual criada para entender
a violência privada no Nordeste, conforme argumentado por Ana Claudia Marques e
Durval Muniz. Outro conceito frequentemente mencionado em reportagens quando
pesquisamos sobre disputas familiares é o mandonismo, frequentemente
representado nas expressões "senhores da terra" ou "mandões
locais", geralmente pelos mesmos motivos que levam ao uso do termo
coronelismo. Este conceito talvez se aproxime mais do tópico atualmente em
análise, pois, como discutido anteriormente, muitas famílias e seus líderes
reivindicavam o poder nas áreas que ajudaram a desenvolver através de seu
pioneirismo e força econômica.
Porém, assim como destacamos sobre o
coronelismo, é importante examinar caso a caso, pois existe uma grande
diversidade nas histórias das famílias que, eventualmente, competiram pelo
controle local.
Texto adaptado por Eugênio Pacelly Alves
Referências bibliográficas:
Exu: que guerra foi essa? Disponível em: >(https://zozimotavares.com/site/2023/10/08/exu-que-guerra-foi-essa/)<. Acesso em 22 de setembro de 2024.
Da lei do morrer ou matar: A tradição da vingança no sertão - Os Alencar contra os Sampaio. Disponível em: >(DA LEI DO MORRER OU MATAR: A TRADIÇÃO DA VINGANÇA NO SERTÃO – OS ALENCAR CONTRA OS SAMPAIO (1949-1981))<. Acesso em 24 de setembro de 2024.
MARQUES, Ana Claudia Duarte Rocha. Intrigas e questões: Vingança de família e tramas sociais no sertão de Pernambuco. Relume Dumará, UFRJ. Núcleo de Antropologia da Política. Rio de Janeiro, 2002.
MOREIRA, José Roberto de Alencar, ALENCAR, Raildson Jenner Negreiros de. Vida e Bravura – Origens e genealogia da família Alencar. Brasília: CERFA, 2005.
PARENTE, Claudia Maria Cardoso. Memórias de um ano da peste: uma reconstituição da epidemia que assolou Exu em 1935, 2020.
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