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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Alencar vs Sampaio: Guerra de clãs em Exú/PE

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A disputa entre os Alencar e os Sampaio se apresenta como a rivalidade entre essas duas linhagens se estendeu por grande parte do século XX. O confronto mais intenso ocorreu a partir do término da Era Vargas, atravessando o período democrático que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, até a ditadura civil e militar que começou em 1964; atingindo também o início da Nova República, com a transição para um novo processo democrático.

Por um longo período, a região Nordeste esteve em evidência na mídia nacional devido ao intenso conflito entre as famílias Alencar e Sampaio, localizado no município de Exu, no interior de Pernambuco. O ponto de partida dessa disputa rural, que se estendeu por mais de trinta anos, foi um incidente fatal que ocorreu em 10 de abril de 1949, após um confronto armado que resultou na morte do coronel Romão Sampaio Filho e de Cincinato de Alencar Sete, um ex-prefeito da cidade.

A partir desse momento, um desejo profundo de vingança e uma onda de violência afetaram ambos os clãs. Foram registrados 48 homicídios, em sua maioria envolvendo pessoas inocentes, cometidos de maneiras diversas e brutais em Exu, Recife, São Luís, Rio de Janeiro e em outras localidades, além de tentativas de assassinato.

Essa tragédia do sertão é narrada em prosa e verso através de literatura de cordel, reportagens, documentários televisivos, trabalhos acadêmicos e músicas. O que se comunicava até então era que a sequência de mortes violentas era alimentada pela disputa cega pelo controle local. As armas em casa, assim como as conversas delicadas sobre política e desavenças, eram temas comuns em seu cotidiano. Quando o atentado ocorreu, em 1972, Zito Alencar residia em Sapé, na Paraíba. Ele se mudou para outro estado porque em Exu existia um plano para sua morte, devido sua presença na cena do crime de 1949. Para garantir sua sobrevivência e criar sua família, foi forçado a partir e até mesmo mudar seu nome no novo lugar que escolheu para viver.

Contudo, o acordo feito durou muito pouco. No início de 1973, o então prefeito de Exu, Raimundo Ayres de Alencar, foi morto com três disparos de revólver na praça central da cidade. A onda de violência não se restringiu a isso. Vinte e três anos depois de ter deixado a cidade, Zito Alencar retornou a Exu e foi eleito prefeito, mas não conseguiu completar seu mandato: foi assassinado em plena rua, em maio de 1978, com 52 anos, por balas traiçoeiras. O assassinato chocou Exu e teve repercussão mundial. A missa de corpo presente foi oficiada pelo padre João Câncio, que havia fundado a Missa do Vaqueiro com Luiz Gonzaga. Ele era um amigo da família.

O mais recente ato violento dessa guerra, segundo o relato de uma descendente da família Alencar, aconteceu em 1981. 

O conflito realmente cessou apenas quando o governo, finalmente, começou a atuar de maneira mais significativa no caso, a partir do início dos anos 1980. 

Alguns estudos buscam entender os conceitos que geralmente são aventados quando se fala das turbulências nordestinas, sobretudo sertanejas. O mais usual é o conceito de coronelismo. A partir das análises de José Murilo de Carvalho (1998), sobre o trabalho de Vítor Nunes Leal, entendemos que este conceito exige maior reflexão no que concerne às lutas entre famílias, pois:

(...) o coronelismo é um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos. O coronelismo, além disso, é datado historicamente. (CARVALHO, 1998, p.1)

Sendo o coronelismo um sistema que se manteve restrito e que esteve presente apenas durante a chamada República Velha, desde sua implementação até sua derrubada pela Revolução de 1930, não há como considerar a vingança privada como parte desse sistema político.

Além disso, conforme mencionado anteriormente, diversas famílias em disputa apresentavam diferenças significativas em termos de renda, propriedades e até mesmo em relevância regional. Não era uma regra que toda família extensa envolvida em conflitos contasse com membros que ocupassem posições nas forças armadas, no comércio de grande porte ou no serviço público (clientelismo).

Assim, a palavra coronel, utilizada para designar um poderoso local com controle absoluto sobre a vida da comunidade, nesse sentido estrito, é apenas uma construção conceitual criada para entender a violência privada no Nordeste, conforme argumentado por Ana Claudia Marques e Durval Muniz. Outro conceito frequentemente mencionado em reportagens quando pesquisamos sobre disputas familiares é o mandonismo, frequentemente representado nas expressões "senhores da terra" ou "mandões locais", geralmente pelos mesmos motivos que levam ao uso do termo coronelismo. Este conceito talvez se aproxime mais do tópico atualmente em análise, pois, como discutido anteriormente, muitas famílias e seus líderes reivindicavam o poder nas áreas que ajudaram a desenvolver através de seu pioneirismo e força econômica.

Porém, assim como destacamos sobre o coronelismo, é importante examinar caso a caso, pois existe uma grande diversidade nas histórias das famílias que, eventualmente, competiram pelo controle local.



Texto adaptado por Eugênio Pacelly Alves



Referências bibliográficas:

Exu: que guerra foi essa? Disponível em: >(https://zozimotavares.com/site/2023/10/08/exu-que-guerra-foi-essa/)<. Acesso em 22 de setembro de 2024.

Da lei do morrer ou matar: A tradição da vingança no sertão - Os Alencar contra os Sampaio. Disponível em: >(DA LEI DO MORRER OU MATAR: A TRADIÇÃO DA VINGANÇA NO SERTÃO – OS ALENCAR CONTRA OS SAMPAIO (1949-1981))<. Acesso em 24 de setembro de 2024.

MARQUES, Ana Claudia Duarte Rocha. Intrigas e questões: Vingança de família e tramas sociais no sertão de Pernambuco. Relume Dumará, UFRJ. Núcleo de Antropologia da Política. Rio de Janeiro, 2002.

MOREIRA, José Roberto de Alencar, ALENCAR, Raildson Jenner Negreiros de. Vida e Bravura – Origens e genealogia da família Alencar. Brasília: CERFA, 2005.

PARENTE, Claudia Maria Cardoso. Memórias de um ano da peste: uma reconstituição da epidemia que assolou Exu em 1935, 2020.

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